Em tempo de Pandemia e depois do ruído
(Artigo de Opinião)
O surto de Covid-19 trouxe-nos um misto de sensações e desafiou a nossa saúde mental. Talvez possamos equiparar este momento a uma viagem com destino incerto e rota por traçar, com um início repentino e para a qual não tivemos tempo de nos preparar.
De início, e a partir de uma espécie de negação, questionámos a probabilidade de sermos implicados neste cenário, que parecia ainda tão distante. Seguiu-se, muito rapidamente, a confirmação de que seríamos envolvidos, ainda sem sabermos como, exatamente. Somos seres de hábitos. Não gostamos da incerteza e da dúvida, muito menos quando esta envolve a iminência de podermos ficar doentes, de perdermos quem nos é próximo ou a até a ideia da nossa própria finitude. Definiu-se o isolamento, como solução. Não nos pareceu agradável, mais fizemos o esforço. Mudámos rotinas e mudámos nós.
Aos trambolhões lá fomos
e lá vamos, nesta carruagem que decide, a cada dia para onde vai e onde quer
parar. É natural, compreensível e inevitável que tudo isto nos afete. Os pais
viraram professores e, para muitos, não há distinção entre casa e trabalho. A
saúde e a economia amedrontam-nos. Por outro lado, apesar de distantes estamos,
estranhamente, mais perto e o tempo disponível que parecia desesperante, ficou
preenchido e a agenda lotou. Somos seres de hábitos, estamos a habituar-nos.
Pamol, M., 2020. Psicologicamente falando: Em tempo de Pandemia e depois do ruído. Opinião Pública, p.16.
Pandemia - O que foi e o que será
(Artigo de Opinião)
Já se vê a luz ao fundo do túnel, mas não tenhamos pressa. Queremos voltar, com rapidez e impaciência, ao "antigamente", para podermos regressar à "normalidade". Contudo, importa talvez abrandar agora o passo, ou até mesmo parar um pouco se for preciso.
Todas as situações têm algo para nos dizer e esta não é diferente. O que aprendemos? Em que é que mudámos? Pensamos agora de maneira diferente em relação a alguns assuntos? O que foi mais difícil? E mais fácil? Tentar responder a estas e a outras questões é essencial para que entremos na próxima etapa mais conhecedores de nós próprios e mais preparados.
Depois de refletirmos sobre o que passou, debrucemo-nos então sobre o que nos espera. Lembremo-nos, antes de mais, que este caminho só tem um sentido: em frente. Não vamos em direção a ontem, mas sim em direção ao amanhã e este amanhã será, certamente, diferente. Sejamos honestos: Esperar que tudo volte ao que era antes é irrealista. Há alterações que são permanentes e outras que ainda se vão prolongar. É fundamental, por isso, que façamos agora uma gestão equilibrada das nossas expetativas, para que não sejamos depois atropelados pela frustração. O que consigo prever? O que está no meu controlo? E o que não está? Aquilo que espero desta nova etapa é realista? O que preciso de ajustar em relação ao pré-pandemia?
Aproveite este momento
para preparar a sua mente para o que se segue.
Pamol, M., 2020. Psicologicamente falando: Pandemia, o que foi e o que será. Opinião Pública, p.16.